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Mai
Caras professoras e professores, estamos mais uma vez às vésperas
de uma possível greve na educação. Em primeiro lugar, gostaríamos de
dizer que somos solidários na luta pela valorização do magistério e por
condições dignas de trabalho, ensino e estudo.
Ser aluno da educação pública é uma experiência nem sempre fácil. As
notícias sobre interrupções de aulas no ensino público são temas
recorrentes nos noticiários. Recentemente, o país se chocou com a brutal
repressão aos docentes do Estado do Paraná.
O CAp UFRJ é uma instituição tradicional na universidade, e há
décadas cumpre importante papel para a formação de professores,
pesquisadores e alunos. Os desafios, entretanto, para manter o seu bom
funcionamento têm sido inúmeros: há déficit de professores efetivos,
baixo orçamento para conservação e modernização de suas instalações e
sua sede possui evidentes limitações frente às necessidades de prover
bem estar, segurança e conforto para a sua comunidade acadêmica.
Nos últimos anos, a comunidade escolar do CAp UFRJ vivenciou duas
greves, em 2011 e 2012, sendo esta última, no contexto da greve das
instituições federais de ensino do país. Os alunos e familiares do CAp
ainda sentem os efeitos de tais acontecimentos, não apenas na memória,
mas também nas consequências pessoais e acadêmicas que estas
representaram.
A vivência de uma greve não impacta igualmente os alunos de
graduação, pós-graduação e os alunos do CAp. A maioria dos alunos do CAp
são crianças e muitas não possuem autonomia e tampouco maturidade para
compreender os sentidos de uma greve. Pela sua condição de
vulnerabilidade social, a vivência do período de privação de aulas pode
significar o isolamento, o desânimo com o estudo e o confinamento
doméstico.
Faz-se necessário reconhecer, portanto, a especificidade das crianças
e adolescentes que são alunos da UFRJ: não apenas pelas idades a partir
dos 6 anos como também pelo calendário escolar diferenciado. O ano
escolar, no CAp UFRJ, começa antes e termina depois do ano previsto para
a graduação e pós-graduação. Assim, quando a crise nos serviços
terceirizados adiou por alguns dias o início das aulas da graduação,
este atraso implicou num prejuízo de 6 semanas para a comunidade
Capiana.
Tais questões nos levam a perguntar: será que a singularidade dos
alunos do CAp e de seus professores não merecem ser consideradas como
excepcionais num cenário de greve da universidade? Será que conferir um
tratamento “igualitário” entre crianças e adultos é o mais justo e,
inclusive, o mais correto frente ao nosso ordenamento jurídico? Como
proceder para proteger os segmentos mais vulneráveis da universidade num
contexto de greve e o que fazer para reduzir danos a indivíduos em uma
etapa tão fundamental do seu desenvolvimento e processo de formação para
a cidadania?
A comunidade de mães, pais, responsáveis e alunos do CAp reafirma
aqui o seu compromisso na luta pela valorização da educação pública e
pelas condições de trabalho de seus professores e de estudo para seus
alunos. Mas ao mesmo tempo, aqui estamos para pedir-lhes que considerem
também as necessidades e vulnerabilidades das crianças e adolescentes do
CAp, principalmente em tempos de greve, sendo oportuno refletir sobre a
adoção de estratégias para redução de danos e proteção aos mais
fragilizados.
APACAp – Associação de Pais, Alunos e Amigos do CAp UFRJ.
Rio de Janeiro, 25/05/2015