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Há anos, especialistas de diversas áreas do saber têm pesquisado como mães e pais interagem com as crianças e quais são os impactos desses papéis. O psicanalista inglês Donald Winnicott investigou essas funções e colocou a mãe como o primeiro ambiente tanto biológico quanto psicológico do bebê. Assim, a maneira como ela se comporta sempre exerce uma grande influência sobre a saúde da criança.
Esse vínculo profundo, de acordo com Eleanor Luzes, psiquiatra e analista junguiana que divulga a Ciência do Início da Vida, se estabelece no útero: "Com cinco semanas de gestação, o bebê começa a desenvolver a sensibilidade olfativa, gustativa e tátil. A mãe é o mundo sensorial dele". Além disso, se na barriga da mãe o bebê é alimentado por seu sangue, quando sai, é o leite materno que carrega os nutrientes.
A mãe, como Winnicott afirmava, ainda tem a função de espelho: o bebê busca a si mesmo na face materna. Até o reconhecimento das próprias sensações é feito por meio dela. "Antes de um ano, a criança não localiza a dor que sente. Quando se machuca, procura a mãe. O olhar dela, que é localizado, ajuda a criança a identificar a dor", diz Eleanor.
De acordo com a especialista, o bebê tem seis estados de consciência, mas somente em um, o alerta ativo, o pai consegue interagir mais com o filho. Seria a partir do segundo ano que a figura paterna passaria a ganhar mais importância na vida da criança: "O pai tem a missão de levar o filho simbolicamente para longe da mãe, por meio da bicicleta e do velocípede, passando uma segurança do mundo para o bebê".
Para ela, essa segurança é fundamental para a constituição da criança como sujeito: "Se a mãe for com a criança a um parque, tenderá a pedir para que ela não faça isso ou aquilo. O pai estimula a criança a fazer o que a mãe tomaria como risco, o que colabora para o aumento de sua segurança".
Papéis de gênero
De acordo com a psicanalista Vera Iaconelli na série de vídeos "Psicanalistas e suas análises", para que faça a transição de mamífero para sujeito humano, o bebê precisa de alguém que lhe forneça uma nomeação de mundo e um espaço em que ele se sinta desejado – e isso não tem relação direta com o sexo nem com os papéis de gênero.
"A criança vai se reconhecer como um sujeito digno, inserido no grupo, se esses pais forem reconhecidos como pais. A criança herda esse lugar. Não tem nada a ver com a função que esses pais têm que ter perante a criança", fala.
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Na prática
Para Adriano de Luca, pai do João, de quatr anos, existe uma generalização grande quando se fala em papel de pai e de mãe. "Do jeito como a sociedade é configurada e por conta do machismo, existe um papel imposto para o pai e para a mãe que as pessoas repetem. Percebo que a única função exclusiva é gestar e amamentar, que só a mulher pode fazer", diz.
Quando o filho brinca em um pula-pula, por exemplo, Adriano conta que costuma ficar mais receoso que a esposa, Marcella Chartier. Os dois se revezam nos cuidados com o filho e em todas as funções envolvidas – a alimentação, o banho, a educação e as responsabilidades gerais.
"Como em qualquer parceria, tem papéis e acordos, e eles podem surgir como funciona melhor para as pessoas envolvidas. A maternidade e a paternidade são uma sociedade em que os papéis podem inclusive rotacionar", fala Marcella. Para ilustrar, ela diz que o pai acolhe melhor o filho em momentos em que ele se machuca.
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O casal conta também que os dois sempre gostaram de mostrar o mundo à criança. "Fazer um bolo ou plantar uma sementinha são jeitos de mostrar o mundo e nós dois fazemos com nosso filho", comenta Adriano.
Marcella opina: "Acho que a gente precisa desconstruir a ideia de que a mãe tem um papel e o pai tem outro e que isso não é remanejável. Hoje temos o desafio de criar meninos e meninas que consigam perceber que podem fazer tudo e que isso não tem a ver com papel de gênero, o cuidado não é necessariamente feminino".
Fonte: Catraquinha
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